Jean-Luc Godard, depois de experimentar várias radicalidades, demarcou o território impossível de um artista: “Ninguém faz duas revoluções”, e concluiu: “Ainda bem”.
Era como se mandasse um recado e predestinasse uma outra voz para a esfinge, em forma de eufemismo, de paradoxo, de axioma.
João Gilberto fez a revolução bossanovística; Oswald de Andrade, o pau-brasil/antropófago; Hélio Oticica, os parangolés do experimentar o experimental. Com a Tropicália, que, antes de estabelecer plenamente, foi “abortada”, pelo AI-5 e suas seqüelas, talvez a maldição godardiana foi diferente, cada tropicalista seguiu seu rumo.
Com os Mutantes, não foi diferente. Arnaldo Baptista – Rita Lee & Sérgio Dias escreveram parábolas dentro e a partir de parábolas. Viveram suas possibilidades coletivas, paralelas e individuais.
Arnaldo, na musicografia tropicalista e na própria música brasileira, é o artista que saques produziu para quebrar a maldição godardiana. Depois de ser o motor dos Mutantes. Depois de produzir os primeiros álbuns solos de Rita Lee _ Bluid up, 1970 e Hoje é o primeiro dia do resto da sua vida, de 1972. Depois de ir e vir. E partir para a carreira solo. Levou o conceito de radicalização ao extremo. Seu primeiro álbum-solo: Lóki? (Philips, 1974), é, até hoje, o disco mais visceralmente revolucionário da música brasileira . Com um instrumental mínimo – teclado (Arnaldo), contrabaixo (Liminha), bateria (Dinho) e backing-vocals (Rita Lee) – (o último encontro dos Mutantes), Lóki?, em dez canções, passa a limpo toda a era do rock and roll e o que poderia ter sido uma tropicália lisérgica. Sem dúvida, o melhor elenco de canções incluídas em um único álbum.
O formato do álbum é conceituado. Os dois lados do disco abrem com canções chaves. O lado A com “Será que vou virar bolor” e o lado B “Ce ta pensando que sou Lóki?”. Ambas trazem as inquietações pós-Mutantes de Arnaldo. Qual o futuro? O esquecimento? (Bolor) ou A loucura? (Lóki?). As outras oito canções vão respondendo, cada uma, de uma forma e de um ponto-de-vista. A minimalista canção final “È fácil”, responde com uma melodia supertrabalhada e uma miniletra: nem o esquecimento nem a loucura, mas a genialidade da música. É fácil!
As outras canções são: “Uma pessoa só”, única faixa herdada dos Mutantes, da época do A e o Z. Canção utópica que aponta para a plenitude da convivência humana, em um único corpo e em um único projeto de vida.
“Não estou nem ai” é a antítese de “Uma pessoa só”, o antípoda que nega os projetos utópicos e enfrenta o mundo material, o instant karma da vida cotidiana.
Continuando, a quarta canção do lado A é “Vou me afundar na lingerie” é a terceira possibilidade, nem o mundo utópico, nem a dureza da vida cotidiana, mas o hedoismo, o ócio, a prequiça como destruidores das opressões e barras-pesadas.
Fechando o lado A, a instrumental “Honky tonky”, com apenas Arnaldo no piano, em um misto de boogie woogie e levada trans-stoneana, trans-“Honky tonky woman”.
O lado B, depois de “Ce ta pensando que sou Lóki?”, traz “Desculpe”,uma releitura de “Desculpe, babe”, de Arnaldo Baptista & Rita Lee , do álbum A divina comédia ou ando meio desligado, dos Mutantes de 1969. É uma outra resposta para o impasse: esquecimento/ bolor/ lóki/ loucura. O “amor” como a grande questão. O dizer sim ou não. Perdoar ou não. Seguir em frente.
A terceira canção “Navegar de novo” é uma resposta concisa. É o bola pra frente”, “o enfrentar as intempéries” e “seguir”.
A Cançao sequinte “Te amo podes crer” é, talvez, a obra-prima das canções de amor do rock brasileiro. Em dois minutos e cinqüenta segundos, Arnaldo faz um tratado das dores de amores, um Werther, um Tristão e Isolda, um Romeu e Julieta com piano, sintetizador, contrabaixo elétrico e bateria.
Fechando, a chave-de-ouro de “É fácil”.
E o conceito faz clique e se completa. Na era do CD, algumas informações se perdem, mas uma que, no vinil, fazia muito sentido ainda vale ser comentada. Os dois lados do disco (A e B) trazem exatamente 16 minutos e 50 segundos, nem um nem dois segundos a mais ou a menos. E no rodapé da ficha técnica, uma única nota: “Este disco é para ser ouvido em alto volume”. Aumentar o volume não só do aparelho, mas do rock e das emoções primitivas de cada um.
Era como se mandasse um recado e predestinasse uma outra voz para a esfinge, em forma de eufemismo, de paradoxo, de axioma.
João Gilberto fez a revolução bossanovística; Oswald de Andrade, o pau-brasil/antropófago; Hélio Oticica, os parangolés do experimentar o experimental. Com a Tropicália, que, antes de estabelecer plenamente, foi “abortada”, pelo AI-5 e suas seqüelas, talvez a maldição godardiana foi diferente, cada tropicalista seguiu seu rumo.
Com os Mutantes, não foi diferente. Arnaldo Baptista – Rita Lee & Sérgio Dias escreveram parábolas dentro e a partir de parábolas. Viveram suas possibilidades coletivas, paralelas e individuais.
Arnaldo, na musicografia tropicalista e na própria música brasileira, é o artista que saques produziu para quebrar a maldição godardiana. Depois de ser o motor dos Mutantes. Depois de produzir os primeiros álbuns solos de Rita Lee _ Bluid up, 1970 e Hoje é o primeiro dia do resto da sua vida, de 1972. Depois de ir e vir. E partir para a carreira solo. Levou o conceito de radicalização ao extremo. Seu primeiro álbum-solo: Lóki? (Philips, 1974), é, até hoje, o disco mais visceralmente revolucionário da música brasileira . Com um instrumental mínimo – teclado (Arnaldo), contrabaixo (Liminha), bateria (Dinho) e backing-vocals (Rita Lee) – (o último encontro dos Mutantes), Lóki?, em dez canções, passa a limpo toda a era do rock and roll e o que poderia ter sido uma tropicália lisérgica. Sem dúvida, o melhor elenco de canções incluídas em um único álbum.
O formato do álbum é conceituado. Os dois lados do disco abrem com canções chaves. O lado A com “Será que vou virar bolor” e o lado B “Ce ta pensando que sou Lóki?”. Ambas trazem as inquietações pós-Mutantes de Arnaldo. Qual o futuro? O esquecimento? (Bolor) ou A loucura? (Lóki?). As outras oito canções vão respondendo, cada uma, de uma forma e de um ponto-de-vista. A minimalista canção final “È fácil”, responde com uma melodia supertrabalhada e uma miniletra: nem o esquecimento nem a loucura, mas a genialidade da música. É fácil!
As outras canções são: “Uma pessoa só”, única faixa herdada dos Mutantes, da época do A e o Z. Canção utópica que aponta para a plenitude da convivência humana, em um único corpo e em um único projeto de vida.
“Não estou nem ai” é a antítese de “Uma pessoa só”, o antípoda que nega os projetos utópicos e enfrenta o mundo material, o instant karma da vida cotidiana.
Continuando, a quarta canção do lado A é “Vou me afundar na lingerie” é a terceira possibilidade, nem o mundo utópico, nem a dureza da vida cotidiana, mas o hedoismo, o ócio, a prequiça como destruidores das opressões e barras-pesadas.
Fechando o lado A, a instrumental “Honky tonky”, com apenas Arnaldo no piano, em um misto de boogie woogie e levada trans-stoneana, trans-“Honky tonky woman”.
O lado B, depois de “Ce ta pensando que sou Lóki?”, traz “Desculpe”,uma releitura de “Desculpe, babe”, de Arnaldo Baptista & Rita Lee , do álbum A divina comédia ou ando meio desligado, dos Mutantes de 1969. É uma outra resposta para o impasse: esquecimento/ bolor/ lóki/ loucura. O “amor” como a grande questão. O dizer sim ou não. Perdoar ou não. Seguir em frente.
A terceira canção “Navegar de novo” é uma resposta concisa. É o bola pra frente”, “o enfrentar as intempéries” e “seguir”.
A Cançao sequinte “Te amo podes crer” é, talvez, a obra-prima das canções de amor do rock brasileiro. Em dois minutos e cinqüenta segundos, Arnaldo faz um tratado das dores de amores, um Werther, um Tristão e Isolda, um Romeu e Julieta com piano, sintetizador, contrabaixo elétrico e bateria.
Fechando, a chave-de-ouro de “É fácil”.
E o conceito faz clique e se completa. Na era do CD, algumas informações se perdem, mas uma que, no vinil, fazia muito sentido ainda vale ser comentada. Os dois lados do disco (A e B) trazem exatamente 16 minutos e 50 segundos, nem um nem dois segundos a mais ou a menos. E no rodapé da ficha técnica, uma única nota: “Este disco é para ser ouvido em alto volume”. Aumentar o volume não só do aparelho, mas do rock e das emoções primitivas de cada um.
(Texto original de Marcelo Dolabela - bhz out/nov 1999).
Veja a faixa "Será que eu vou virar bolor?":
Download: Arnaldo Baptista - Lóki?
Senha: fomesonora
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