terça-feira, 6 de dezembro de 2011

Bixiga 70 - Bixiga 70



A história da banda Bixiga 70 começa na Rua 13 de Maio, número 70. Trata-se do endereço do estúdio Traquitana, polo que reúne e registra nomes da cena independente de São Paulo, entre eles, Guizado e Leo Cavalcanti.
Décio 7 e Cris Scabello, dois dos fundadores do grupo, atuavam como produtores e instrumentistas no Traquitana quando resolveram juntar energias para formar uma banda que tivesse a exploração rítmica como força motriz. "Queríamos improvisar, buscar uma nova sonoridade, evitar os rótulos fáceis", explica Cuca Ferreira, sax barítono da banda.
O endereço do estúdio, no coração do Bixiga, virou o nome da banda, uma referência ao África 70, o histórico grupo do nigeriano Fela Kuti. Isto fez com que o Bixiga fosse rotulado (indesejadamente) como um revival de afrobeat. A definição é imprecisa. Como mostra o excelente primeiro disco, a ser lançado segunda pelo site Bixiga70.com, as raízes da banda estão na polirritmia do oeste africano, escola rítmica de diversas vertentes, algumas das quais foram adaptadas ao jazz e ao funk por Fela para a criação do afrobeat na Nigéria.
No entanto, a grande influência rítmica do Bixiga 70 tem os pés no Guiné, na música malinké de Famadou Konate, mestre do djembê cuja filha, Fanta Konate, Décio 7 (bateria) e Rômulo Nardes (percussão) acompanharam por alguns anos. "As pessoas acabam associando o som do Bixiga ao afrobeat por falta de referências. Mas, na verdade, nossa inspiração vem de várias Áfricas, desde o Guiné ao batuque afro filtrado pelo nosso som tropical, que chegou a nós através dos afro sambas de Baden, da música de Gil e de Chico Science", conta Décio. No entanto, ao ouvir o disco, é quase impossível apontar influências nitidamente afrobrasileiras. O que se escuta é uma orquestra de jazz com um motor polirrítmico, pontuada por guitarras que remetem ao carimbó (traço brasuca mais palpável), adornada por improvisos e colorida por arranjos cinematográficos, uma banda que trabalha um nicho semelhante à Orquestra Rumpilez, de Letieres Leite, mas com uma pegada mais crua e ritmicamente acessível. No entanto há paralelos como o som de uma big band. As composições da banda são divididas em seções de tema e solos. Ao vivo, esta estrutura é mais livre e as músicas são esticadas para induzir o transe rítmico, assim como Fela fez com faixas que chegavam a mais de uma hora de duração. Esta função musical é a influência mais forte de Felá.

"A ideia é fazer uma música mântrica, que transforma-se em um ritual em que todos estão envolvido de uma forma mais espiritual com o som. Sempre brincamos que a banda é a nossa igrejinha e nos reunimos para rezar e celebrar", conta Cris Scabello, guitarrista da banda.
No disco, as composições foram encurtadas e a força dos imponentes arranjos de metais remete mais a trilhas sonoras de filmes de ação dos anos 70 do que a um ritual afro, lembrando o trabalho de Quincy Jones (They Call me Mister Tibbs) e Lalo Schifrin (Operação Dragão, filme de Bruce Lee).
Mas isto não é uma estratégia. "Acho que as imagens são uma referência natural para todo mundo. É um universo que a gente curte. O som instrumental estimula muito a imaginação, dá espaço para as pessoas abstraírem a música, pensarem no simbolismo dela. Sempre brincamos com as cenas das músicas. É piada interna, mas às vezes piramos numa coisa meio kung fu, meio Bollywood, meio Kill Bill. Aqueles caras dando voadoras no ar... (risos)", conta.
No disco, a faixa Balboa da Silva, feita em homenagem ao pugilista Nilson Garrido, que dirigiu uma academia de boxe ao lado do Traquitana, no Bixiga, é um pretexto para esta comparação. Sobre uma levada de funk, os metais tecem um tema heroico, vitorioso, que torna impossível não pensar na abertura de um filme de ação. "Assim que começa o som, o pessoal já da uns murros no ar", brinca Décio.
A forma inconsciente com que o grupo trabalha suas influências talvez seja o grande diferencial. Ao ouvir o disco, não se tem a sensação comum de que o grupo recorta e cola gêneros, algo que se tornou praxe no cenário digital contemporâneo, em que se tem acesso a tudo e o processamento de referências é muitas vezes raso. "O Bixiga foi embasado em muita pesquisa. Todo mundo se aprofundou e a coisa foi tão intensa que saiu de forma natural", explica Cris. "Não rolou aquilo de 'ah, vamos colocar um afoxé, você entra com um samba-jazz ali’. Já dizia o mestre Charlie Parker: 'você estuda e estuda, mas na hora de subir ao palco, fecha o olho e toca", completa Décio. O ingrediente mais brasileiro do Bixiga 70 fica por conta da guitarra de Cris Scabello, que trabalha pontos em comum entre a guitarrada do Pará e a forma pontilista com que o instrumento é usado no afrobeat.




Veja o vídeo da canção "Grito de paz".




Download: Bixiga 70 - Bixiga 70
Senha: fomesonora

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