O novo trabalho de Mallu tem nome de fruta. Fruta vermelho-alaranjada, nativa da Mata Atlântica brasileira. Fruta azedinha, doce, bonita e única. E que dá aos montes na Rua Simão Álvares, situada no organismo vivo onde reinam carros e ônibus; o chamado bairro de Pinheiros. Mais São Paulo, impossível.
Ali surgiu o disco da artista que, traçando um caminho para dentro de si, encontrou uma sonoridade moderna, inédita, brasileira e universal. Fica claro, ao escutar o trabalho como um todo ou em fragmentos, que tudo aquilo foi tirado de dentro de um universo estético exclusivo e valioso.
A autoralidade da compositora ultrapassa gostos musicais e preconceitos. Seu crescimento como artista, seu amadurecimento, sua certeza e coragem apontam para uma nova fase. Mas não se dá nome a tal fase ou momento. Nem perguntando a própria Mallu consegue-se resposta. Ela apenas firma sua teoria de “primeiro faz, depois vê o que é que saiu”.
E é nesse descomprometimento com o externo, o alheio, que ela atinge, de modo visceral e especialmente decidido, seu íntimo e o expõe, em música, em timbres, em acordes, em escolhas estéticas, em conduta de vida e de melodia. Ela simplesmente existe e realiza seu trabalho, destemida como uma mulher, criativa como uma criança e apaixonada como gostamos de ver.
Num quarteirão, Seu Cláudio e sua família mantém o lendário Estúdio El Rocha. No outro, viveram os protagonistas deste novo trabalho.
A decisão de chamar Marcelo Camelo para produzir seu disco não é, para Mallu, algo questionável, mas sim absolutamente natural a ponto da pergunta “porque Marcelo de produtor?” nem fazer sentido. Bem, sabe-se que o músico esteve sempre presente com a artista, em contato com sua composição e criatividade. E não demorou para a dupla pensar em Victor Rice.
Era preciso alguém para completar. Alguém que trouxesse conhecimento técnico e emotivo, e que pudesse estar quando Camelo viajasse, mas que fosse um cara legal e um grande músico. Convidaram, então, o nova-iorquinho do Copan (clássico edifício paulistano onde mora) para a co-produção e mixagem.
Mallu via o disco surgindo, “todas as sensações, letras, melodias e idéias atraindo-se, agrupando-se, começando a formar uma sólida obra” explica.
E foi percebendo a beleza desta dança do inconsciente que bordou um tecido com uma foto 3X4, recortou uns retalhos e levou ao scanner, realizando uma idéia recente e colocando no ar, o blog diário. Nele, prometera contar sobre cada dia, todo santo dia, fazendo do processo emocional e profissional mais uma vez uma coisa só.
Cumpriu com gosto e ternura: relatou minuciosamente os dias em que o casal caminhava ao estúdio e dedicava-se única e exclusivamente ao que viesse na telha, tocando, os dois, a maioria dos instrumentos. Em uma entrevista, Mallu comenta: "Dá vontade de colocar nos créditos: ‘Marcelo e Malu: Não se sabe o quê’”.
Nasceu, assim, um disco que abre esta artista sem mais nem menos, convidando a todos para toda uma dimensão que ela mesma criou, sem forma, expectativa ou pré-determinação, onde sua saga de seguir o sentimento levou cada detalhe a uma obra forte e expansiva, turbinada pelo apoio, direção, afeição e musicalidade de Camelo.
A primeira frase cantada vem com fôlego: “Pode falar que eu não ligo, agora amigo, eu tô em outra”. É a canção “Velha e Louca”. A velha Mallu acaba de completar 19 anos de idade e soa mais dedicada, aplicada e inteira do que nunca.
Faz de cada faixa uma surpresa boa: o número dois da lista é “Cena”, com direito a bateria forte e violão fraquinho. Já a terceira é “Sambinha Bom”, que agrada como um poema, acompanhado por um leque de instrumentos bastante variado, soando milimetricamente calculado.
Vem, então, “Moreno do Cabelo Enroladinho” cheia de guitarras de Camelo, dando boa liga a “porque você faz assim comigo?”. Nesta, a artista senta na bateria e envia umas canções para Kassin “ver se quer colocar alguma coisa”.
E recebe do artista guitarras rasgadas ao longo da canção. O músico e amigo convidado ainda trouxe enfeites a “Wake up in the morning”, que ocupa o número cinco da ordem. Antes dela, vem “Youhuhu” e “Baby, I’m sure”. As três embalam melodias doces misturando português e inglês.
Sem barreira de linguagem ou censura continua com “Lonely” e “Highly Sensitive”, deixando o violão de nylon apenas para mais adiante, em “Ô, Ana”, escrita para sua irmã, seguida por “Cais” que, por sua vez, é tão conceitual quanto sensitiva. Permitir-se embalar nas profundezas dessa última faixa é, realmente, privilégio.
Entre algumas viagens, compromissos e eventos, completaram 55 dias no El Rocha. Dias que contam a mixagem que, por sua vez, foi também acompanhada o tempo todo pelo incansável produtor, e visitada diversas vezes pela cantora. Contam também, uns três dias de visitas e contribuições de outros músicos.
Alguns detalhes tinham de ser feitos. Camelo não dispensava sequer um sininho. Receberam André Lima e seus teclados, François no trombone, Josué na flauta, Daniel D’Alcantara no flugel horn e Maurício Takara em duas baterias.
Realizadas todas as fantasias musicais, Pitanga viajou a Miami, para ser masterizado por Felipe Tichauer, no estúdio Redtraxx Music. Todo cuidado era pouco pois, aquele áudio havia sido gravado e mixado com muita atenção, trabalho e capricho, em muitas horas de manhã a manhã (dividiam-se em duas duplas, para otimizar a produção: Fernando Sanches, engenheiro de som do estúdio, e Mallu começavam bem cedinho e Victor e Marcelo chegavam depois do almoço, e iam até quase raiar o sol).
Assim como para todos os envolvidos, o disco, para o ouvinte, vai além de um projeto musical. Basta escutar para notar o peso de Pitanga. Não se trata de um álbum, apenas, mas sim de uma filosofia, um universo, um portal, uma fruta, um gosto, um mundo todo. Se trata de alguma coisa como um presente, feito à mão por Mallu.
Texto da Assessoria de imprensa da Mallu
Confira a faixa "Velha e louca".
Download: Mallu - Pitanga
Senha: fomesonora
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirCara/Caro teu blog é show... continua com esse trabalho!
ResponderExcluirTou sempre aqui!
Abraço.